“Precisa, sim, investir em educação! O Censo GIFE mostra que o tema é querido entre os institutos e fundações. E, de fato, há melhoras aqui e ali, mas os índices ainda são baixos. É necessário fomentar um sistema de ciência, tecnologia e inovação na e para a Amazônia. Países que são desenvolvidos têm um forte apreço pela biotecnologia.”
Tatiana Schor
Secretária de Desenvolvimento Econômica, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Amazonas e professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM)
“Sabemos os problemas e desafios que a região tem em termos de infraestrutura, mas também em educação, cultura, direitos humanos… E só daremos conta de preservarmos a região se também dermos conta desses desafios.”
Ana Toni
Instituto Clima e Sociedade
Desafios relacionados à educação na Amazônia:
- Dificuldade de acesso a diversas comunidades rurais e territórios de povos tradicionais, em função das grandes distâncias e desafios de locomoção em áreas remotas, criando obstáculos para a boa instalação de escolas, transporte escolar de estudantes e deslocamento de professores.
- Realidade de turmas multisseriadas em comunidades remotas (em função das grandes distâncias e dificuldade de constituição de turmas) sem que haja formação adequada aos educadores por elas responsáveis.
- Infraestrutura precária, no que se refere à qualidade dos estabelecimentos públicos, equipamentos, materiais pedagógicos, conectividade e tecnologia disponíveis – situação que é agudizada em meio ao contexto remoto.
- Modelo de educação descontextualizado, com conteúdos, abordagens e materiais que não dialogam com a realidade dos territórios e populações da Amazônia.
- Educação escolar indígena marcada por forte influência de organizações religiosas na prestação dos serviços e com demanda não atendida por ensino bilíngue (nativo e português).
- Baixa qualificação dos profissionais da educação em comunidades remotas e pequenos municípios, uma vez que aqueles com melhor formação tendem a atuar nos grandes centros urbanos.
“De acordo com o Censo 2019, 27% das escolas indígenas do país, ou seja, 926 unidades funcionam de maneira improvisada, sem prédio escolar. Ao todo são 3.342 escolas indígenas no Brasil. Podemos destacar a região amazônica como símbolo do país em relação à complexidade das atividades envolvendo tal empreitada”.
Fabrício Storani – Diretor de Políticas para Modalidades Especializadas de Educação e Tradições Culturais Brasileiras do MEC
Em 2019, a região da Amazônia Legal registrou 5,1 pontos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Ensino Fundamental I da rede pública, nota inferior às outras regiões brasileiras e próxima ao Nordeste.
Caminhos para maior contribuição da filantropia neste eixo:
Implementação de iniciativas para alavancar uma educação de resultados
A melhora nos índices educacionais e de aprendizagem nos estados da região Norte é absolutamente inadiável. Por seu caráter também articulador, o ISP deve mobilizar-se a reunir e aproximar diferentes organizações e setores (público, privado e de OSCs) em prol de uma agenda abrangente para uma educação de resultados para os estados e municípios da região. Organizações do ISP podem organizar formações e adensar articulações para trocas de experiências entre instituições que atuam ou tenham interesse em atuar no tema na região, bem como apoiar técnica e financeiramente coalizões educacionais consolidadas (como Todos Pela Educação ou Campanha Nacional pelo Direito à Educação, por exemplo) para mobilizá-las por ações especificamente dirigidas às particularidades educacionais da Amazônia.
Formação de professores e equipes da gestão escolar
Com particular foco na educação contextualizada, que também valorize o etnoconhecimento dos povos indígenas e comunidades tradicionais, mas em nada desconsiderando a qualificação técnico-pedagógica dos professores nos grandes centros urbanos da região. O ISP pode oferecer ou potencializar iniciativas de formação continuada, oferecer bolsas de estudo, desenvolver programas de mentoria ou supervisão técnica, dentre outras ações voltadas à valorização docente e à melhoria da gestão escolar.
Provimento de melhorias em infraestrutura
Incluindo transporte escolar em áreas remotas, barco-escolas, equipamentos e materiais pedagógicos, com destaque àqueles que potencializem propostas de educação contextualizada – indígena, quilombola, ribeirinha etc. E em contexto de aulas remotas impostas pela pandemia, contribuir com melhorias de conectividade nas escolas. Mas para isso, é fundamental que as organizações do ISP desenvolvam parcerias fortes e transparentes com o poder público em âmbitos estadual e municipal.
Produção de informações que subsidiem uma atuação estratégica em educação na Amazônia
Política pública deve ser realizada lastreada em evidências. Portanto – e o campo do ISP é bastante sensibilizado para tal máxima –, um caminho para contribuir com a educação na região é apoiar a produção de diagnósticos dos principais problemas existentes nas diferentes realidades territoriais e faixas etárias, bem como apoiar a realização de avaliações pelos sistemas de ensino. O ISP também pode levantar experiências que demonstraram resultados em termos de aprendizagem, de modo a potencialmente replicar em outras localidades da região (considerando maior similaridade entre elas, do que comparado a outras regiões do país).