Agenda Socioambiental

Inclusão produtiva e desenvolvimento de cadeias sustentáveis

“Cada vez mais, me vejo às voltas com iniciativas de fomento ao empreendedorismo. E, de fato, pensar em investidores-anjo, que possam fomentar e orientar pequenos negócios na região – isso seria de enorme contribuição. Aqui, as pessoas têm a ideia, mas não sabem como empreender.”

Brenda Brito

pesquisadora do Imazon

“Bioeconomia parece coisa nova, mas é uma coisa antiga – basta lembrar da borracha, sorva, cumari e mesmo da produção de peixes ornamentais etc. Se desejamos prosperar enquanto sociedade, é importante termos empresas e empreendedores prósperos. […] Minha suspeita é que o ambiente institucional da região não favorece quem empreende em larga escala.”

Denis Minev

Bemol e membro do Conselho de Administração da Fundação Amazônia Sustentável (FAS)

Desafios relacionados à inclusão produtiva e desenvolvimento de cadeias sustentáveis na Amazônia:

 

  • Sistema de incentivos pouco estimulante para negócios comunitários locais, com destaque à dificuldade para empreender (burocracia envolvida na criação e desenvolvimento do negócio) e à baixa formalização e profissionalização da mão-de-obra local.
  • O ambiente institucional não favorece quem empreende em larga escala com modelos sustentáveis na região, havendo uma ausência de instituições de suporte ao desenvolvimento desses negócios.
  • Pouco conhecimento acumulado sobre soluções produtivas sustentáveis, com entendimentos ainda muito distintos sobre o conceito de bioeconomia, o que reforça uma visão difundida na sociedade que associa diretamente negócios à exploração da floresta.
  • Carência de infraestrutura básica para o desenvolvimento de empreendimentos produtivos, incluindo gargalos relacionados a ordenamento territorial (questões fundiárias), segurança jurídica, transporte, comunicação, dentre outros problemas logísticos.

Em 2020, dentre os 374 empreendimentos produtivos comunitários na base das cadeias florestais não-madeireiras na Amazônia – mapeados pelo Desafio Conexsus – apenas 20% processavam e/ ou beneficiavam os produtos originários da floresta.

Fonte: Uma Concertação pela Amazônia

Com uma área que ocupa cerca de 60% do território nacional, a Amazônia conta com menos de 10% da rede de estradas do Brasil, sendo grande parte destas não pavimentada. Segundo dados da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), em 2019, 77% das rodovias da Região Norte estavam em condições avaliadas entre regulares, ruins e péssimas.

Fonte: Uma Concertação pela Amazônia

Caminhos para maior contribuição da filantropia neste eixo:

Fomento a uma nova narrativa sobre bioeconomia

Com foco em qualificar a compreensão sobre seu potencial para o desenvolvimento econômico da região. Além do debate conceitual mais abrangente – que pode ser impulsionado por meio de parcerias com instituições acadêmicas ou centros de pesquisa –, o fortalecimento dessa discussão passa por compreender os modelos e abordagens já desenvolvidos por diversas iniciativas em curso sobre o tema. Entendendo as peculiaridades das cadeias produtivas das múltiplas “Amazônias”, o ISP reúne condições de estruturar narrativas que contribuam para melhorar o aproveitamento econômico e diminuir o impacto negativo dos empreendimentos locais (inclusive, por meio de ações de advocacy).

Qualificação e profissionalização da mão de obra local

Como já faz como segunda principal estratégia de investimento social pelos institutos e fundações (atrás da Educação, segundo Censo GIFE 2018), o ISP também poderia investir na formação e qualificação da mão de obra local, a partir de parcerias com instituições que tenham capilaridade na região e em especial (no que tange a este eixo) com acúmulo no tema da bioeconomia.

Investimento de impacto em cadeias produtivas sustentáveis

Com mais maleabilidade que outros tipos de recursos, como os eminentemente públicos ou privados com estrita finalidade de lucro, as organizações do ISP podem proceder a alocação direta de capital paciente e de risco mais elevado no desenvolvimento de negócios de impacto locais – também em condições de impulsionar a atração de outros tipos de recursos que se somem a esses investimentos. Nessa linha, podem ser criados fundos cotizados entre diferentes organizações do ISP para investimento em iniciativas de fomento à bioeconomia, de modo a expandir as condições para um ambiente fértil à busca de soluções de geração de renda sustentáveis. Ou, ainda, iniciativas inovadoras de atração de investimentos como, por exemplo, plataformas peer-to-peer, que se constituem também como oportunidades de ampliação de uma consciência social geral sobre o potencial do território amazônico (além de fomentar negócios locais).

Sistematização e disseminação de casos de sucesso em bioeconomia

Iluminando oportunidades desse modelo, de modo a gerar interesse em um número expandido de atores da filantropia a se conectarem com essa possibilidade. Podem ser realizados mapeamentos de ações, iniciativas, políticas e modalidades de investimento, identificando convergências entre ações diversas e consolidar experiências que demonstrem as potencialidades desse tipo de negócio.