“Se antes da Covid a saúde era um caos, com a Covid, colapsou. Menos de 20% dos municípios têm esgotamento sanitário, a baixa qualidade da água gera grande mortalidade infantil (e nesse contexto, [as medidas de enfrentamento da] Covid pedindo pra lavar as mãos!).”
Caetano Scannavino
ONG Projeto Saúde & Alegria
Desafios relacionados à saúde na Amazônia:
- Colapso no sistema de saúde com a pandemia da Covid-19.
- Baixa cobertura do sistema de saneamento básico na região, com grande parcela da população sem acesso a água e esgoto, impactando também em altos índices de doença de veiculação hídrica.
- Infraestrutura precária no sistema de saúde local, no que se refere aos estabelecimentos públicos, equipamentos e materiais disponíveis.
- Dependência de organizações religiosas na prestação de diversos serviços de saúde pública.
- Pouco controle e participação social nos conselhos e fóruns da área da saúde.
Na Região Norte, 57% da população amazônica têm acesso à água e apenas 10% contam com coleta de esgoto. Destes, somente 21,7% são tratados. Em 2018, foram registradas 41 mil internações relacionadas à falta de saneamento básico na região.
De janeiro até meados de 2021, o número de mortes por Covid-19 no estado do Amazonas foi quase o dobro do montante registrado ao longo de todo o ano de 2020, totalizando 10.100 óbitos desde o início da pandemia.
Fonte: Fundação de Vigilância Sanitária do Amazonas (FVS-AM)
Caminhos para maior contribuição da filantropia neste eixo:
Investimento direto em infraestrutura básica de saúde e aprimoramento da gestão
Conforme grande esforço da filantropia por ocasião do colapso do sistema de saúde durante a pandemia, é importante o ISP incorporar um olhar de perenização do investimento em saúde (não somente atrelado à emergência da pandemia), incluindo melhorias nos aparelhos públicos existentes e a disponibilização de ambulâncias, barco-hospitais, unidades móveis de saúde, doação de equipamentos de proteção e materiais hospitalares etc. Para atuação nessa linha, também é basilar que as organizações do ISP desenvolvam parcerias fortes com o poder público em âmbitos estadual e municipal. Ações para a saúde também podem ir na direção de melhoria da gestão e governança dos sistemas locais, por exemplo com a criação e operacionalização de consórcios públicos intermunicipais para a oferta qualificada, coordenada e de escala de serviços públicos básicos de forma regionalizada.
Ampliação e melhoria do acesso a saneamento básico
Essa é outra questão flagrante na região Norte e que o investimento social privado poderia participar com estratégias de mitigação e melhoria. Novamente resgatando o viés potencialmente inovador do ISP, o foco deve estar no investimento em sistemas viáveis de saneamento em comunidades dispersas e de áreas urbanas degradadas, realizadas de forma customizada em visualização à realidade daquela comunidade que se está atendendo. E outra linha, de atendimento de massa, atores do ISP também podem fazer advocacy pela universalização do acesso ao saneamento, articulando-se com os setores público e privado para desempenhar algum programa que vá nesta direção.
Desenvolvimento de soluções comunitárias voltadas à área da saúde
Favorecendo o diálogo das comunidades na compreensão dos desafios latentes e na formulação e implementação de estratégias para enfrentá-los. Ações nessa linha têm potencial de aumentar o envolvimento das populações com seus territórios e, com isso, também aumentar a conscientização deles para cuidados preventivos, que podem ajudar a não sobrecarregar o sistema – especialmente nesse período de pandemia. Para isso, tanto podem ser desenvolvidas campanhas e produzido dados e conhecimento sobre a saúde da população local, que também podem ajudar no desenvolvimento de iniciativas inovadoras localmente ou apoiar o ISP em ações de advocacy, promoção da participação social e controle cidadão dos governos.